Médica suspeita de emitir falsos laudos de câncer passou a ser investigada após paciente exigir cópia de resultado de exame, diz delegado
29/02/2024
Segundo denúncia, médica não entregou laudo para paciente, que ao buscar resultado em laboratório descobriu que não tinha doença. Nove vítimas denunciaram caso à polícia. CRM-PR disse que apurará possível desvio ético. Delegado fala sobre investigação de médica suspeita de emitir laudos falsos de câncer
A investigação contra a médica Carolina Biscaia, investigada pela Polícia Civil por suspeita de emitir laudos falsos de câncer de pele, teve início após uma paciente que não recebeu o exame da profissional ir ao laboratório e constatar um resultado diferente do diagnosticado.
Ou seja, a paciente não tinha câncer de pele. Um inquérito na Polícia Civil de Pato Branco, no oeste do Paraná, apura o caso. O g1 entrou em contato com a médica e aguarda resposta.
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Até esta quinta-feira (29), nove vítimas denunciaram caso à polícia. Destas, pelo menos oito passaram por procedimento de ampliação de margens, que consiste na retirada de parte da pele onde supostamente estaria o câncer, informou o delegado Helder Andrade Lauria.
A cirurgia, feita no próprio consultório da médica, custa de R$ 3 mil a R$ 5 mil por paciente, de acordo com a apuração da polícia.
Médica atua em Pato Branco, no Paraná
CC0 Public Domain/Divulgação
Procurado pelo g1, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) disse que vai abrir uma sindicância para apurar a denúncia de possível desvio ético pela médica.
Segundo a organização, o Código de Processo Ético-profissional determina que o processo tramite sob sigilo, garantindo o contraditório e ampla defesa.
Criminalmente, se comprovada a fraude, a médica pode responder por estelionato e lesões corporais. Somadas, as penas podem chegar até seis anos de prisão.
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Como eram os atendimentos, segundo polícia
Conforme o delegado Helder, nas consultas a médica examinava pintas e manchas dos pacientes e afirmava que algumas delas poderiam ser cancerígenas.
Na sequência, ela fazia a retirada de material e encaminhava para um laboratório. Na reconsulta, ela apresentava ao paciente um laudo, que a polícia suspeita ser falso, com diagnóstico de câncer de pele.
Segundo as investigações, a médica, então, marcava o procedimento de ampliação de margens.
"Falava que a pessoa tinha câncer, naquele mesmo momento falava que precisava ser retirado e fazer o procedimento cirúrgico. A pessoa pagava e era feito o procedimento no consultório mesmo", explicou o delegado.
Como a investigação começou
Manchas de formato irregular podem ser sinal de câncer de pele.
Freepik
De acordo com o delegado Helder, a investigação começou após duas pacientes comentarem uma com a outra que a médica não entregou a elas o laudo que indicava que elas tinham câncer de pele.
Após isso, umas das pacientes procurou o laboratório exigindo o exame. Ao receber o laudo original, ela suspeitou de fraude e, assim, iniciaram as apurações, segundo a polícia.
Ainda conforme o delegado, o laboratório, que não teve nome divulgado, não tem envolvimento com o caso e também denunciou a médica.
Câncer de pele: como identificar se pintas, manchas e outros sinais podem indicar doença
Médica foi alvo de busca e apreensão
Na última segunda-feira (26), a polícia cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa da médica.
No local, segundo o delegado, foram encontrados laudos que, na sequência, foram encaminhados ao Instituto de Criminalística "para comprovar a falsificação".
Na operação também foram apreendidos computadores, celulares e outros documentos que auxiliarão a polícia na investigação.
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